Um carro movido pela paixão, parte de uma comunidade de outros apaixonados pela marca Land Rover e tudo o que representa: liberdade, aventura, natureza, overlanding, campismo. A Discovery é capaz de te trazer tudo isso. E eu, com esta resenha, quero contar-lhes o que pensamos após um ano de uso e cerca de 15 mil Km rodados pelo Uruguai, Argentina e Chile.
Um pouco da história da Discovery
Basicamente, a Discovery surgiu ao final da década de 80, como uma terceira linha da marca Land Rover, para complementar os já existentes modelos Defender e Range Rover. O primeiro, um utilitário robusto, ícone da marca, que antes era chamado apenas de “Land Rover” (séries I, II e III); o segundo, um carro com capacidades não muito distantes do primeiro, mas com perfil voltado para o conforto, o luxo. Criaram, então, a Discovery, um veículo com luxo intermediário (na época, o 200tdi), duas portas, sete lugares; um carro para levar a família para passeios de aventura 4x4, o que foi um conceito inovador na época. Alguns anos depois, quando o motor foi alterado para o 300tdi, o interior também foi mudado bastante, mas ainda guardando muitos aspectos que lembram o anterior. Enfim, meu objetivo aqui não é focar na história do veículo, mas achei bom começar por aí, de forma bem resumida. Para quem não conhece muito do carro, ajuda a se situar um pouco. Hoje, a Discovery está na quinta geração, muito mais moderna e bastante diferente da primeira.
Por que escolhemos comprar uma Discovery 300tdi?
Na verdade no início não conhecíamos o carro. Nossa ideia era comprar um
veículo diesel para fazer viagens longas, e uma das opções que conhecíamos era
a Defender 300tdi. Já tínhamos lido bastante sobre esse veículo, sobre o motor.
E éramos (ainda somos) apaixonados pelas Defenders, assim como também somos,
por exemplo, pela Toyota Bandeirante, outra opção na época. Se querem saber mais
detalhes, pontos positivos e negativos de cada um desses carros, podem ler a
postagem Qual carro comprar para viagens longas? Mas, resumindo, chegou
um momento em que descobri que algumas Discoverys levavam o mesmo motor 300tdi
das Defenders. Mas as Discos são mais raras, por isso passavam mais despercebidas.
Enquanto eu passava horas vendo anúncios de Defenders, a maioria 300tdi, em
mais de um site de venda, as Discos 1 se contavam nos dedos, as Disco 2 também... E
teve um anúncio que estava bem “fraco”, era só uma foto do carro por fora com
alguma descrição. Eu tinha gostado, mas estava olhando as Defenders. Fiz visita
a todas Defenders da região. E só uma a gente gostou, mas o preço estava muito alto, mais
do que poderíamos. Então, após esgotar as possibilidades, mostrei para a
Stephanie: “Olha essa Disco aqui, quem sabe a gente marca uma visita, para ver
como é?” Ela topou. E quando a vimos por dentro, a conservação, o estado do
motor, foi amor à primeira vista!
Especificações
Vou resumir bem a minha: Land Rover Discovery série 1 motor 300tdi diesel ano e
modelo 1996 exterior verde, interior caramelo, suspensão com lift por
calço de 2 polegadas, pneus 265/70R16 (mais largos e com maior diâmetro que os
originais, que eram 235/70R16).
Após um ano de uso, o que pensamos da nossa Disco?
A maioria dos entusiastas diria “é uma lenda, carro fantástico!”, mas eu
aqui quero me deter nos aspectos mais objetivos, pois entendo que você deve
estar buscando a real, os lados negativos também, e não só os positivos. Vamos
lá...
1) Design
A primeira impressão que se tem é o visual. É um carro alto, possante,
robusto. É tudo isso mesmo. Os maiores carros da atualidade, como a Hilux, a
Ranger, a SW4, não conseguem intimidar, mas talvez fiquem no páreo... Não é
clássico, como uma Defender, mas, para quem gosta de raridade, este é, e cada
vez mais será. Daqueles que as pessoas olham e ficam de queixo caído. Quem
conhece, pensa “Nossa, uma Disco 1!” Quem não conhece, pensa “Nossa, que carro
é esse?”
2) Interior
A segunda impressão é o interior. Embora seja um carro antigo, é algo muito
bem trabalhado. Hoje em dia você entra nos carros e tudo é de plástico, tudo
parece que vai se desmontar com os buracos da cidade. Na Disco 1, pelo menos na
minha, que é da cor caramelo, você sente que é um carro de luxo, e um luxo de
vanguarda, entende? Não é um carro que se baseou em outros por aí. Ele é único.
E é funcional também, tem espaço para tudo e até sobra.
3) Conforto
Outra coisa é o conforto. Já dirigi um Defender. Tem muita gente que acha o
defender desconfortável, porque o banco é muito rente à porta, bla bla bla. Eu
até não sou desses, não acho dos piores. Mas, sem dúvida, a Disco é bem mais
confortável. O banco acomoda, tem espaço certinho para as pernas, a visão pelos
vidros é perfeita. Claro, não sou daqueles que anda no carro com o banco quase
deitado, tentando uma “esportividade forçada”. Esses eu não sei se gostariam,
mas aí é outro estilo. Na Disco é na medida certa, acomoda como tem que ser.
4) Manobra
E para estacionar um carro grandalhão como ela, é difícil? Que nada! A Disco
é quadradona e cheia de vidros. Você tem uma ótima ideia da distância das
coisas, é só se acostumar um pouco e ter cuidado.
5) Manutenções
A mecânica é simples mesmo. Eu sou da opinião de que quanto menos
complexidades, menor a probabilidade de quebrar algo, então, mais barata a
manutenção. Tem que ter cuidado ao escolher um mecânico, pois há os careiros e
os sacanas. Fato é que não é preciso levar a um especialista em Land Rover para
quase nada, só se quebrar algo muito específico mesmo. Eu aprendi a fazer todas
as manutenções básicas em casa: troca do filtro de ar, do filtro de diesel, do
óleo e filtro de óleo (veja postagem Como trocar óleo e filtro de óleo do próprio carro? ou o vídeo que fiz no YouTube com o mesmo nome), engraxo cardã e munhões. Todos esses filtros ou
substâncias encontrei para vender em locais comuns, perto de casa, às vezes até
nos postos. Tem também pelo Mercado Livre, em lojas especializadas de LR. Pago
bem barato e não preciso nem gastar com mão de obra. A facilidade é que o carro
é alto do chão, então, não preciso elevar ele para mexer. Mas quem quer pagar
para fazer, é igual a qualquer carro, é só cuidar para não ser passado para
trás. Quanto ao que é mais complexo, levo em uma oficina especializada em Land
Rover, mas tive sorte e nunca paguei caro por nada. A única exigência é comprar
um carro bem cuidado, pois é claro que um carro detonado iria dar problema,
quebrar toda hora.
6) Suspensão
Não posso dizer por todas, mas muitas camionetas modernas têm uma péssima
suspensão, dura, trepidante. É normal, pois um veículo alto pode acabar
tombando nas curvas se tiver suspensão macia demais. Contudo, a Discovery não
tem tanto esse problema. Isso porque o chassis dela é um par de viga de aço como de um arranha-céu, hehehe. Sim, o peso do chassis acaba baixando o
centro de gravidade, permitindo que a suspensão possa ficar mais macia. Não é
como um sedã de luxo, mas bem boa. Andei em um Renegade e em um Compass, e nem
se compara, a Disco é muito melhor! Ainda assim, os proprietários da Disco 1 costumam alterar, para diversas finalidades. Pode colocar molas mais macias, maiores, amortecedores de primeira linha, e
vai ficar um espetáculo. E é tudo simples, custa barato, um preço justo, na
verdade. Não tem aquela frescura de suspensão a ar, amortecedores magnéticos
etc.
7) Capacidade de carga
O porta malas não é muito grande não. Para o dia a dia, é bem suficiente,
não sinto falta. Mas, para viajar, poderia ser um pouco maior. Acaba não me
incomodando, na verdade, porque somos só eu e a Stephanie no carro, então
usamos o espaço dos bancos traseiros. Estes, inclusive, podem ser rebatidos totalmente, de forma que a camionete fica como uma pick-up.
Às vezes fazemos isso, mas preferimos deixar o banco normal. Além disso, como
normalmente se usa bagageiro de teto, daí sim, se pode colocar muita coisa em
cima. A gente não usa o bagageiro para carga, pois o portão de casa é baixo, e
o ideal mesmo é aproveitar o espaço interno sempre que possível. Mas, se você
quer viajar em um grupo, daí sim, podem ir mais pessoas dentro do carro e levar
as coisas em cima, no bagageiro. O carro é forte. Pode até ser lento, mas leva
o que for necessário sem aumentar muito o consumo.
8) Motor
Acho que a maior vantagem do motor 300tdi, além de ser diesel, é claro, é o
fato de ser simples, sem muita frescura. De novo, quanto menos detalhes, menos
chance de dar problema. Quatro pistões, também, acho ideal. Esses carros
modernos começaram a vir com três pistões, mas isso é ruim pela estabilidade
das vibrações. Um motor de oito pistões, V8, seria algo bem estável, seria um
motor invejável, potente e com som magnífico. Porém, V6 ou V8, é mais consumo,
pois normalmente tem maior cilindrada, são feitos para ser muito potentes. No
caso do 300tdi, um 4 pistões em linha, 2.5 litros, é bem basicão mesmo. O
consumo dele gira em torno de 9.5 a 11.5. Em média, dá para calcular sempre
como 10,5 Km/l. Depende do peso que você for carregar, se está subindo a serra,
ou descendo, de muitos fatores, inclusive da regulagem (bomba, turbina...).
O meu veículo, na época, foi importado. Então, o motor não é fabricado no
Brasil, como outras Discoverys ou Defender de anos posteriores.
É um motor com turbo e intercooler, o que é muito bom, em comparação a
outros veículos diesel da época. O turbo e o intercooler acrescentam potência.
E o som do turbo é bonito de se escutar. Quando o giro aumenta e a turbina
sopra forte, você sente que a potência aumenta bastante.
Por ser um motor diesel, o bom é que é um motor de forte estrutura e longa
durabilidade, pelo menos quando é bem cuidado.
Agora, o lado ruim desse motor. Ele costuma ter problema com
sobreaquecimento. Muitos reclamam disso. A gente nunca teve problema de a água
ferver, mas temos um marcador de temperatura do cabeçote e vamos controlando.
Não sei ao certo qual a temperatura exata que eu deveria ter receio de
ultrapassar, mas, por enquanto, quando alcança a marca de 81 graus, eu começo a
retirar o pé do acelerador, desligar o ar condicionado. Nunca deixei passei dos
91 graus na temperatura do cabeçote. Mas o próximo passo é instalar um sensor
de temperatura de água bem preciso, que me mostre com exatidão a temperatura da
água, daí sim não tem erro, dá para cuidar melhor. Esse então é um ponto
negativo, ter que ficar sempre atento à temperatura da água, não forçar demais
o motor. Sempre que a temperatura do dia está muito elevada, é uma preocupação.
Outro lado ruim, na minha opinião, é que o motor poderia ser um pouco mais
forte. Ele tem 111HP apenas. Para um veículo de duas toneladas e meia, não é
muito. Ele vai de vagar nas subidas, sim. Por esse motivo tem muito landeiro
que refaz o motor para 2.8 litros, ou troca a turbina por outro modelo, ou
coloca um intercooler maior. Ou seja, ninguém está plenamente satisfeito. Mas, pelo
menos tem solução. Eu não penso em transformar em 2.8. Em geral se faz isso
quando o motor precisa de retificação, daí já se aproveita e modifica. Mas o
próximo upgrade nesse sentido será colocar um intercooler duplo, talvez. Se bem que eu dirijo de vagar, então não me incomodo tanto com isso.
Outro problema do motor é que, pelo fato de não ter injeção eletrônica (o
que, já disse, é também uma vantagem), quando o ar fica rarefeito, como quando
subimos as cordilheiras dos andes, o motor enfraquece muito, pois entra menos
oxigênio para a combustão e fica uma mistura rica em diesel, sai fumaça preta,
o carro consome mais. A 5 mil metros de altitude, então, o carro não conseguia
passar dos 35 Km/h, por aí. Bom, na verdade, se eu enfiasse o pé no fundo, até
andaria um pouco mais, porém com alto consumo, e com a temperatura do cabeçote
indo às alturas. Então, a gente tinha que desligar o ar condicionado e andar
bem de vagar. Na volta de San Pedro de Atacama, então, tinha uma subida sem
parar por uns 30min. Mas aí eu descobri o segredo: engatei a reduzida. Com a
marcha em quinta da reduzida o carro foi, de vagar, ainda, mas sem problema
nenhum de sobreaquecimento. Ou seja, em altitude, o jeito é usar a reduzida
para algumas subidas, para evitar o sobreaquecimento.
9) Tração 4x4
O bom desse carro, e de todas as Land Rovers, é que a tração 4x4 é integral,
graças ao diferencial central. A maioria dos carros, até os modernos, não
possuem isso, não sei por quê. Só podem ligar o 4x4 quando a superfície de contato for de baixa aderência (lama, areia). Em asfalto, por exemplo, não podem. Já a Discovery
está sempre tracionada, e isso é ótimo, dá mais segurança em curvas, gasta pneus de forma mais regular, não patina facilmente e está sempre pronta para enfrentar condições difíceis.
10) Freios
Como eu não sou de correr na cidade, não sinto falta de freios mais
potentes. A Disco tem freio à disco nas quatro rodas, olha que legal que ficou
a frase, hehe. Acho que quem deixa o carro muito pesado, com para-choques de
impulsão, barraca de teto etc, daí sim, pode ter mais dificuldade para frear,
pois, quanto mais peso, maior a inércia, mais difícil de parar, ainda mais
aquelas pessoas que aceleram e freiam em cima. Para mim, estão bons assim como
são. Mas, a maioria dos usuários acaba fazendo upgrades, colocam hidrobooster,
por exemplo, trocam cilindro mestre, essas coisas. Talvez um dia eu faça.
11) Lataria
A lataria é quase toda em alumínio, como as Defenders. Você bate com o dedo
e sente que é forte, e não uma latinha de cerveja como os veículos modernos. A
Discovery é daqueles carros que quando bate, o outro se estraçalha e ela só dá
um arranhãozinho, hehe. Bom, melhor não tentar, porque as peças de acabamento,
essas sim são difíceis de conseguir.
Cordilheiras dos Andes, Chile. |
12) Seguro
Tem como fazer seguro sim, mesmo ela tendo mais de vinte anos e sendo um
veículo Off-Road. Mas, sinceramente, não vale a pena. A vez em que fiz uma
cotação, sairia mais de quatro mil reais por ano. Então, é inviável. Em poucos
anos, economizando, você poderia comprar uma Discovery “nova”. Digo, pelo valor
atual do carro, é melhor guardar esse dinheiro para, no dia em que acontecer
algum sinistro, você ter como consertar, ou pelo menos comprar outra... E eu,
com meus 15 anos de motorista, nunca precisei acionar o seguro, lembrando que
só vale a pena acionar o seguro quando o valor do conserto ultrapassar o valor da franquia. Então, na maioria dos sinistros, você de qualquer forma paga do seu bolso. Sei lá, tudo na vida envolve certo risco. Eu assumo o meu, e faço o possível para que o risco seja o menor possível, sendo cauteloso e dirigindo pouco e de vagar. Invisto em outras formas de segurança, evito estacionar na rua, deixar coisas dentro, essas coisas. É uma questão de probabilidade.
13) Valorização
Ao longo dos anos, é normal que o veículo vá perdendo seu valor. O preço vai
caindo. Porém, um dia alcança um patamar e de lá não cai mais. A Disco 1 já
chegou aí. A partir de agora, as bem conservadas vão ficando cada vez mais
raras e o preço provavelmente irá aumentar, acredito que acima da inflação. É
só você olhar quanto custa os veículos mais antigos, quando bem conservados.
Quanto mais raro, mais original e mais conservado, maior o preço. Claro, para
conservar bem, tem um custo. Mas, se você ama o carro, isso não é um peso, é um
investimento na felicidade. A manutenção é barata mesmo, mas eu tenho gastado
em upgrades. Dá prazer planejar e comprar algo novo para o carro. O que eu
tenho certeza é que hoje eu venderia ele por mais do que paguei, com certeza.
Muito diferente é quando se compra uma camionete nova. Você compra por 200 mil
reais, ou mais, e nunca mais vende por esse preço. A manutenção dessas
camionetes novas é cara, ainda mais porque carro novo sempre se quer levar em
autorizada, para não perder a garantia. Só que na autorizada eles te tiram o
couro!
Bom, gente, acho que é isso. Se eu lembrar de
algo mais, acrescento depois. E, se você tem esse carro e quer compartilhar sua
opinião, fique à vontade para comentar, aqui em baixo. Acho que me alonguei
demais até, mas, de fato, tinha muito a dizer. Obrigado por ler acompanhar
nossas postagens! E até a próxima!
Para ver uma lista completa das páginas e postagens deste blog, acesse:
Boas dicas para completar os itens em Carros Seminovos SP, aprendi muito, DEMAIS
ResponderExcluirQue bom que gostou, Lorena! Obrigado pelo incentivo. Volte sempre, pois vou me inspirar cada vez mais para continuar escrevendo. Abraço!
ResponderExcluirParabéns pelo conteúdo do site Leandro, uma dúvida. Tenho interesse em pegar uma land do mesmo modelo que o seu, só que ela não tem guincho. A sua já veio com o guincho ou mandou instalar? E sobre peças chegou a ter que importar alguma peça que não encontrou no Brasil?. Abrçs e boas viagens.
ResponderExcluirOlá, Raul! Desculpa a demora. Tive umas mudanças na vida, e agora que estou voltando a acompanhar o blog. Logo vou postar novamente. Obrigado por acompanhar! O guincho não veio de fábrica. Foi adaptado pelo dono anterior. Para isso, ele teve que retirar a "saia" do carro, onde vão os faróis de neblina, e adaptar uma base de aço por baixo do parachoque. O meu é de 12.000 libras. Sobre peças, nunca precisei importar nada ainda. Peças de mecânica em geral se encontra fácil. O que precisa importar são peças de painel e outros detalhes que são exclusivos deste modelo, quando não há fabricantes de paralelos aqui.
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